sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Cristal quebrado


    O sol começa em tom de flor a desabrochar e eu sozinho... Melhor, acompanhado do meu vazio a lamentar. Percebo que mesmo sem sentir, uma lágrima escorre no canto direito do olho. Essa lágrima pinga na nossa foto. Ainda assim espero.
Pergunto-me: Por que me apego tão fácil a coisas banais? Por que alimento meu ego com sofreguidão? Por que te espero sabendo que não mais vai voltar? Quanto mais me questiono menos entendo o gosto do prazer em te querer em troca de nada.
Seus pés já não tocam o chão e seu som já não ecoa como as folhas secas, podres e fétidas que sucumbem em tom de desalento. Não, eu não me perdi em você, apenas me permiti ser seu em momentos que correspondem ao acaso.
Caminho em direção às taças, todas enfileiradas esperando sentir os lábios amargos de tanto desgosto. Quero sempre a primeira taça, sigo uma ordem, como um barbeiro escolhe o pente ao qual vai usar para fazer um corte. Tem, com precisão, a desejo de fazer como o seu gosto prefere.
Já não existem mais os arranhões nas costas, que representavam as marcas da nossa intensa paixão. Restam figuras pintadas em papel machê, lembranças que talvez nem queira esquecer. Além da companhia do vazio, tenho a minha taça de vinho. Talvez sejam melhores companhias que você, já não tenho mais certeza.
Ouço aquela música que chamávamos de nossa. A melancolia é sentida a cada gole do vinho adocicado, o doce se faz amargo e o perfume desaparece. Ouço um barulho forte seguindo de um vento, a janela se abre trazendo o frio. Quebro sem querer aquela taça e os cristais se espalham pelo chão.
Recolho cada fragmento de cristal na esperança de tornar aquilo novamente uma taça, mas como nosso amor, já não restam mais esperanças. Conformo-me em jogá-los no lixo e partir em direção ao sono. Agora minhas companhias são o travesseiro e o cobertor que aquecia nosso amor.
A dor da partida já não mais invade meu ser como se enchesse os pulmões de vida em ar. Deleito-me em te esquecer quando o sono chega e deleito-me em saber que o meu amanhã já nasceu desde já. Assim como você, outras taças de cristal surgirão e o sabor do vinho voltará a ser o mesmo daquela garrafa antiga, doce e apurado.

Por: Fábio do Bú.

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